O
peculiar Capote-e-capelo foi, durante séculos, o traje tradicional da
mulher em algumas ilhas açoriana. Noutras, como é o caso da ilha Terceira, o capote era substituído pelo manto. A sua origem é controversa. Alguns afirmam que teve
origem flamenga, outros, uma adaptação dos mantos e capuchos que, nos
séc. XVII e XVIII, estavam na moda em Portugal, outros ainda que foi
inspirado pelo manto da virgem e outras figuras bíblicas.
O capote consistia
numa grande e rodada capa, que cobria a figura feminina. O capelo,
amplo capuz suportado por um arco de osso de baleia e forro de cânhamo,
que lhe assegurava a forma e consistência, assentava sobre os ombros e
permitia apenas um vislumbre do rosto da mulher.
Em S. Miguel o capelo era menos avançado sobre o rosto. Aqui vemos
dois exemplares do capote-e-capelo vestidos por mulheres micaelenses.
Este
traje além da sua função de abafo, muito conveniente para ir à missa
mas também para encontros mais reservados, remetia o papel da mulher
para uma quase exclusão da sociedade, uma vez que, completamente
cobertas, jamais alguém descobriria a sua identidade e apenas o calçado a
podia denunciar
A característica comum a todas as variantes era ser sempre confeccionado num forte tecido grosso, azul-eléctrico ou negro.
Raul Brandão, em 1926,
escreveu: “O que dá um grande carácter a esta terra é o capote. A
gente segue pelas ruas desertas e, de quando em quando, irrompe duma
porta um fantasma negro e disforme, de grande capuz na cabeça (…)
Começo a achar interesse a este fantástico negrume e resolvo que devia
ser o único traje permitido às mulheres açorianas. À saída da missa
gosto de ver a fila de penitentes que se escoa pelas ruas… (…) Envolve o
corpo todo, e, puxando o capuz para a frente ninguém a conhece. O que
uma mulher que use o
capote precisa é de andar muito bem calçada, porque tapada, defendida e
inexpugnável, só pelos pés se distingue; pelo sapato e pela meia é que
se sabe se é bonita a mulher que vai no capote. O capote herda-se,
deixa-se em testamento e passa de mães para filhas o capote numa casa
serve às vezes para toda a família. Mulher que precisa ir à rua de
repente, pega nele e sai como está.— este já foi da minha avó— diz-me
uma rapariga.—Era dum pano inglês escuro, dum pano magnífico que dura vidas.”
(Raul Brandão, in As Ilhas Desconhecidas, 1926)
Leite de Vasconcelos, quando
visitou os Açores no verão de 1924, também testemunhou o uso de mantos
e capotes pelas mulheres das ilhas Terceira e Faial. Até meados do Séc
XX era frequente encontrar nos meios citadinos mulheres envoltas no seu
capote e capelo armado.
Na ilha Terceira, em vez do capote e capelo, usava-se o manto, que cobria a mulher da cabeça aos pés e era apertado na cintura.
"Manto" - ilha Terceira
" Manto"
Com
a modernização dos tempos e a evolução dos costumes, a mulher açoriana
abandonou o uso do manto e do capote-e-capelo. Actualmente, tornou-se
num símbolo do vestuário tradicional açoriano, divulgado quase exclusivamente pelos ranchos folclóricos e grupos etnográficos.
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